Nascido
em Barbacena, Minas Gerais, em 1885, filho de Alfredo Gabirobertz (capixaba) e
Magdalena Massena (mineira), Homero, desde a infância, visitou com freqüência o
Espírito Santo. Com 20 anos procurou fixar sua residência no Estado, obtendo
sucesso, neste propósito, apenas em 1951. Estava em Belo Horizonte, após
encerrar seu mandato de prefeito em Bonfim (MG) quando foi convocado pelo
governador Jones dos Santos Neves, de quem foi professor de artes no Liceu,
para preparar o Quarto Centenário de Vitória e fundar nossa Escola de Belas
Artes (hoje Departamento de Artes da UFES). Massena pintou as principais obras
do acervo do Palácio Anchieta e o teto do Teatro Carlos Gomes. Do Governo
Juscelino ao de Sarney, teve sua tela Subida da Fé na sala da presidência no
Palácio do Planalto. Era o único brasileiro nato neste ambiente: tinha a
companhia de Georg Grimml e Giambattista Castagneto.
O
ex-governador Arthur Carlos Gerhardt Santos conta que no Palácio do Planalto,
despachando com o presidente Médici, no final da audiência disse: "Presidente,
o Senhor não poderá esquecer do Espírito Santo, já que tem aqui em sua sala um
pedaço de Vila Velha, nossa terra, nesta tela de Homero Massena". O
presidente lhe disse que apreciava muito o quadro, sendo o seu predileto e que
gostaria de conhecer o pintor. Massena, informado do diálogo, ficou muito feliz
ao perceber a função estratégica da sua Subida da Fé, adquirida pelo presidente
Juscelino em 1960.
Massena
praticava pintura ao ar livre com uma turma de amigos: Taneco (alfaiate),
Aldomário Pinto (jogador de futebol), Waldemar Mazei (fotógrafo), Barcelos
(marceneiro), Quintas (fotógrafo), Álvaro Conde (professor) e Mário Baú
(latoeiro), que se reuniam nos finais de semana entre 1942 e 1947. Foi o
primeiro a reunir pessoas para praticar pintura ao ar livre no Espírito Santo.
Fazia o mesmo com seus alunos da Escola de Belas Artes, onde esteve, como
diretor, por apenas dois anos. Em seu discurso de posse, em 23 de maio de 1951,
declarou: "Um dia de júbilo como este para o nosso espírito e, principalmente
para o nosso coração, e em que devemos exprimir o pensamento e revelar nossas
emoções, envaidece-nos, por mais modesto que sejamos, por mais obscuro que
queiramos ser. O Espírito Santo, berço de meu pai, terra onde repousam os meus
antepassados e onde passei a minha infância, viveu na minha retina como um
jardim lendário, plantado junto a um mar de rosas. Seria a realização dessa
expressão tradicionalmente simbólica. E, realmente, é o que sinto. Sinto com
minha alma de artista; sinto com o meu espírito de patriota.
"(...)
Esta Escola de Belas Artes é mais uma iniciativa de grande fôlego, que vai
ensaiar os passos para os mais altos cometimentos. Tudo o que nasce sob um
signo abençoado surge com a graça das coisas simples e nítidas, tal como agora
verificamos. Já imprimem a este ambiente um sentido artístico dos mais
comoventes, o sorriso e o olhar da mulher espírito-santense, fonte lustral da
inspiração, ou guia luminoso para o destino desse arrojo, bem se sente, na
orientação ora descortinada, que o pulso de um homem sereno e previdente guia a
nau do Estado. De outro modo, em vez de tentar, realizaria. Em vez de
simplicidade, pompa; em vez de modéstia, grandiosidade. Mas, se assim fora, o
ritmo que teríamos de imprimir a este estabelecimento, talvez precipitasse na
impropriedade aquele destino. Não: o nosso governador instituiu hoje uma
simples escola primária das Belas Artes. E daqui sairão os valores que,
ampliando os seus salões, elevando as suas cátedras, aprimorando a sua cultura,
fixarão no porvir a academia, o salão, o instituto.
"Podeis contar comigo para esta obra
ingente E sei que posso contar convosco, para vos servir, como um homem que
sente nas veias correr o sangue capixaba, e que formou o espírito contemplando
as nossas belezas, as nossas grandezas, as nossas riquezas, recebendo do nosso
céu, dos nossos mares, das nossas montanhas, o eflúvio divino da interpretação
das artes. Cumpre-nos agradecer ao sr governador do Estado a confiança a que
nos referimos no início desta breve oração; ao mesmo tempo, assegurar não medir
sacrifícios para corresponder à mesma. Agradecer ao povo espírito-santense a
magnífica acolhida que nos tem dispensado, o que fortalecerá nosso ânimo para
os empreendimentos que a direção desta casa exigir. E pedir a Deus não nos
permita esmorecer ante as dificuldades; antes, nos estimule para a luta e para
a vitória, por mais árdua que seja. Abrimos os braços para quantos queiram
abeberar-se nos ensinamentos que, mercê de Deus, possamos prodigalizar, com o
corpo de auxiliares e amigos que integrarem a docência e a administração da
nossa Escola de Belas Artes. Abrimos os braços resolutamente à maturidade que
ainda aspire a elevar o espírito nas concepções do belo, e que encontrará em
nós o espírito fraternal do homem experimentado que formou os seus sentimentos
nas asperezas do trabalho e da luta. Abrimos os braços comovidamente, à
mocidade e à infância, esses dourados padrões da intelectualidade nascente e em
formação, flores olentes que perfumarão estes muros, com a sua inquietude, o
seu bulício, a sua ambição e a sua glória".
Quando
do seu pedido de demissão da Direção da Escola de Belas Artes, por discordar da
filosofia proposta pelo governo, Massena recebeu do secretário de Educação e
Cultura, Rafael Grisi, a seguinte carta: "Prezado professor: Ao tomar
conhecimento do atencioso oficio número 1/53, pelo qual V. S. manifesta a
decisão de afastar-se da Direção da Escola de Belas Artes, cumpro o grato dever
de transmitir-lhe em nome do Exmo. sr. governador e no meu próprio os sinceros
agradecimentos pelo muito que V. S. realizou, quer como diretor quer com
professor, em prol do prestígio de que, desde seu início se cercou aquele
estabelecimento, e do incentivo que deu ao programa de educação e cultura
artística que a esta secretaria cabe desenvolver. Acolhendo embora a decisão
que V. S. apresenta com caráter irrevogável, é-me grato convidá-lo a permanecer
integrando o corpo docente da escola na qualidade de professor da cadeira de
Desenho Artístico e, por esta forma, continuar emprestando a sua colaboração ao
estabelecimento que o teve como seu primeiro diretor. Certo de poder contar com
sua resposta afirmativa, subscrevo-me. Atenciosamente, Rafael Grisi’'.
Dois
anos depois, aos 70 anos, foi aposentado compulsoriamente.
Texto original:
http://www.morrodomoreno.com.br
Fonte:
Coleção Grandes Nomes do Espírito Santo - Homero Massena, 2007
Texto:
Kleber Galvêas
Coordenação:
Antônio de Pádua Gurgel/ 27-9864-3566